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PROFISSÃO PROFESSOR

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Sala de aula

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

PLANO DE AULA: TEMA - VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

Plano de aula Língua Portuguesa



Tema: Variações Linguísticas




Tempo: 12 aulas.





OBEJETIVOS:

- Refletir sobre as variações da língua no decorrer do tempo.
- Valorizar as diferenças culturais e linguísticas.
- Usar a linguagem com autonomia e sem preconceitos




Materiais utilizados e disponíveis neste planejamento.



Textos variados;
Filme – Tapete Vermelho
Exercícios variados
Avaliação da aprendizagem


1ª Aula: (momento descontração)

Leitura dos seguintes textos.
           
I - Declaração Mineira de Amor aos Amigos...

Declaração Mineira de Amor aos Amigos...

.
Amo ocê !
.
Ocê é o colírio du meu ôiu.
É o chicrete garrado na minha carça dins.
É a mairionese du meu pão.
É o cisco nu meu ôiu (o ôtro oiu - tenho dois).
O rechei du meu biscoito.
A masstumate du meu macarrão.
Nossinhora! Gosto dimais DA conta docê, uai.

Ocê é tamém:
O videperfume DA minha pintiadêra.
O dentifriço DA minha iscovdidente.

Óiprocevê,
Quem tem amigossim, tem um tisôru!
Ieu guárdêsse tisouro, com todu carinho,
Du Lado isquerdupeito !!!
Dentro do meu Coração!!!
AMO Ocê, uai!!!


II – Tipos de assaltantes

Assaltante Paraibano:

Ei bichin...
Isso é um assalto!
Arriba os braços e não se bula
Num se cague e não faça mungança...
Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim se não enfio a pexera no teu bucho e boto teu fato prá fora...

Assaltante Baiano:

Ô meu rei...( pausa )
Isso é um assalto...( longa pausa )
Levanta os braços, mas não se avexe não...( outra pausa )
Se não quiser nem precisa levantar pra não ficar cansado...
Vai passando a grana bem devagarinho... ( pausa pra pausa )
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado,
Não esquenta meu irmãozinho...( pausa )
Vou deixar teus documentos na encruzilhada...

Assaltante Mineiro:

Ô sô, prestensão...
Isso é um assarto uai!
Levanta os braço e fica quetim
Quessê trem na minha mão tá cheidibala...
Mió passa logo os trocado que não tô bão hoji
Vai andando uai!

Assaltante de São Paulo:

                  Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu... Alevanta os braços,
meu... Passa a grana logo, meu... Mais rápido, meu, que eu ainda preciso
pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do CORINTHIANS,
meu... Pô se manda, meu...

Assaltante Carioca:

Seguiiiinte bicho....
Tu se ferrô. Isso é um assalto!
Passa a grana e levanta os braços rapá...
Não fica de bobeira, vai andando e se olhar pra trás vira presunto.

Assaltante Gaúcho:
O gurí, ficas atento...
Báh, isso é um assalto!
Levanta os braços e te aquieta tchê!
Não tentes nada, e cuidado que este facão corta uma barbaridade.
Passa os pila prá cá!
E te manda a lá cria, se não o quarenta e quatro fala...

Assaltante de Brasília:

                Querido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da TV para dizer para pedir seu voto de confiança. Prometo se eleito for te representar com responsabilidade e que por exigência do FMI ao final de todo mês aumentaremos as seguintes tarifas para dar uma ajuda aos pobres políticos do nosso país:
Energia, água, passagens aéreas e de ônibus, gás, Imposto de renda, licenciamento de veículos, seguro obrigatório,
gasolina, álcool, IPTU, ICMS, PIS, COFINS.
Mas meu povo não se esqueça: somos uma nação feliz!
O Brasil é penta e em fevereiro tem carnaval!!!


III – Após o momento descontração trago como sugestão os textos a seguir. Caso preferir utilize outros que tratam do assunto, inclusive em livros do primeiro ano do Ensino Médio você vai encontrar mais sobre o assunto.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.
Ao trabalhar com o conceito de variação lingüística, estamos pretendendo demonstrar:
  • que a língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se apresenta de maneira uniforme em todo o território brasileiro;
  • que a variação lingüística manifesta-se em todos os níveis de funcionamento da linguagem ;
  • que a variação da língua se dá em função do emissor e em função do receptor ;
  • que diversos fatores, como região, faixa etária, classe social e profissão, são responsáveis pela variação da língua;
  • que não há hierarquia entre os usos variados da língua, assim como não há uso lingüisticamente melhor que outro. Em uma mesma comunidade lingüística, portanto, coexistem usos diferentes, não existindo um padrão de linguagem que possa ser considerado superior. O que determina a escolha de tal ou tal variedade é a situação concreta de comunicação.
  • que a possibilidade de variação da língua expressa a variedade cultural existente em qualquer grupo. Basta observar, por exemplo, no Brasil, que, dependendo do tipo de colonização a que uma determinada região foi exposta, os reflexos dessa colonização aí estarão presentes de maneira indiscutível.
Níveis de variação lingüística
É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo porque os níveis não se apresentam de maneira estanque, eles se superpõem.
Nível fonológico - por exemplo, o l final de sílaba é pronunciado como consoante pelos gaúchos, enquanto em quase todo o restante do Brasil é vocalizado, ou seja, pronunciado como um u; o r caipira; o s chiado do carioca.
Nível morfo-sintático - muitas vezes, por analogia, por exemplo, algumas pessoas conjugam verbos irregulares como se fossem regulares: "manteu" em vez de "manteve", "ansio" em vez de "anseio"; certos segmentos sociais não realizam a concordância entre sujeito e verbo, e isto ocorre com mais freqüência se o sujeito está posposto ao verbo. Há ainda variedade em termos de regência: "eu lhe vi" ao invés de "eu o vi".
Nível vocabular - algumas palavras são empregadas em um sentido específico de acordo com a localidade. Exemplos: em Portugal diz-se "miúdo", ao passo que no Brasil usa-se " moleque", "garoto", "menino", "guri"; as gírias são, tipicamente, um processo de variação vocabular.
Tipos de variação lingüística
Existem dois tipos de variedades lingüísticas: os dialetos (variedades que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua, ou seja, os emissores); os registros ( variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, as quais dependem do receptor, da mensagem e da situação).
Variação dialetal
Cada pessoa traz em si uma série de características que se traduzem no seu modo de se expressar: a região onde nasceu, o meio social em que foi criada e/ou em que vive, a profissão que exerce, a sua faixa etária, o seu nível de escolaridade.
Os exemplos a seguir ilustram esses diferentes tipos de variação.
  • a região onde nasceu (variação regional) - aipim, mandioca, macaxeira (para designar a mesma raiz); tu e você (alternância do pronome de tratamento e da forma verbal que o acompanha); vogais pretônicas abertas em algumas regiões do Nordeste; o s chiado carioca e o s sibilado mineiro;
  • o meio social em que foi criada e/ou em que vive; o nível de escolaridade (no caso brasileiro, essas variações estão normalmente inter-relacionadas (variação social) : substituição do l por r (crube, pranta, prástico); eliminação do d no gerúndio (correndo/correno); troca do a pelo o (saltar do ônibus/soltar do ônibus);
  • a profissão que exerce (variação profissional): linguagem médica (ter um infarto / fazer um infarto); jargão policial ( elemento / pessoa; viatura / camburão);
  • a faixa etária (variação etária) : irado, sinistro (termos usados pelos jovens para elogiar, com conotação positiva, e pelos mais velhos, com conotação negativa).
Pelos exemplos apresentados, podemos concluir que há dialetos de dimensão territorial, social/profissional, de idade, de sexo, histórica. Nem todos os autores apresentam a mesma divisão para estas variedades, sobretudo porque elas se superpõem, e seus limites não são bem definidos.
Variação regional
Nesta dimensão, incluem-se as diferenças lingüísticas observadas entre pessoas de regiões distintas, onde se fala a mesma língua. Exemplos claros desta variação são as diferenças encontradas entre os diversos países de língua portuguesa (Brasil, Portugal, Angola, por exemplo) ou entre regiões do Brasil (região sul, com os falares gaúcho, catarinense, por exemplo, e região nordeste, com os falares baiano, pernambucano, etc.).
Inúmeros estudos têm sido feitos, no Brasil, com o objetivo de traçar diferenças entre os falares regionais. Experiências, como os Atlas Geolingüísticos, podem ser encontradas:
Nesse tipo de variação, as diferenças mais comuns são as que encontramos no plano fonético (pronúncia, entonação) e no plano lexical (uso de palavras distintas para designar o mesmo referente, palavras com sentidos que variam de uma região para outra).
VRIAÇÃO DE CARATERSOCIAL/PROFISSIONAL
Sob esse ponto de vista, os dialetos correspondem às variações que existem em função da classe social a que pertencem os indivíduos. Incluem-se neste tipo de variedade lingüística os jargões profissionais (linguagem dos advogados, dos locutores de futebol, dos policiais, etc.) e as gírias, que identificam muitos grupos sociais. Na sociedade, os dialetos sociais podem ter um papel de identificação, pois é através deles que os diferentes grupos se reconhecem e até mesmo se protegem em relação aos demais.
Essa variação pode resultar também da função que o falante desempenha. Em português, um exemplo desse tipo de variação é o plural majestático, o pronome nós usado por autoridades e governantes nas suas frases, manifestando sua posição de representantes do povo.
Exemplo: "Vivemos um grande momento no Brasil e tem que ser o momento do Nordeste do Brasil, porque é aqui que se concentra a pobreza" (Presidente Fernando Henrique, JB, 25/01/97)
VARIAÇÃO DE CARÁTER ETÁRIO

Essas diferenças correspondem ao uso da língua por pessoas de diferentes faixas etárias, fazendo com que, por exemplo, uma criança apresente uma linguagem diferente da de um jovem, ou de um adulto. Ao longo da vida, as pessoas vão alternando diferentes modos de falar conforme passam de uma faixa etária a outra

VARIAÇÃO DE REGISTRO
O segundo tipo de variedade que as línguas podem apresentar diz respeito ao uso que se faz da língua em função da situação em que o usuário e o interlocutor estão envolvidos.
Para se fazer entender, qualquer pessoa precisa estar em sintonia com o seu interlocutor e isto é facilmente observável na maneira como nos dirigimos, por exemplo, a uma criança, a um colega de trabalho, a uma autoridade. Escolhemos palavras, modos de dizer, para cada uma dessas situações. Tentar adaptar a própria linguagem à do interlocutor já é realizar um ato de comunicação. Pode-se dizer que o nível da linguagem deve se adaptar à situação.
Obs: Texto tirado de outras fontes, não é de minha autoria.


3º momento: Filme Tapete Vermelho

                                
Obs: Levar o filme Tapete Vermelho e assistir com os alunos, peça aos mesmos que anotem frases ditas no sentido formal para posterior análise. (Para evitar que percam partes do texto devido ter que anotar o que está sendo dito, sugiro ao professor  levar consigo as frases ditas pelos atores e divida entre os grupos para posterior análise, assim você estará ganhando tempo)

Falas ditas pelas personagens:


1 - Eu persiso do neco pra i percurá rã no brejo
2 - Quem acha rã no brejo qui dificulidade
3 - Cuméra nu meu tempo de mininu
4 - Ta tudo deferente na roça
5 - Mais tardi eu passu lá pra módi benzê eli
6 - Seu neversár ta cheganu fio
7          Nois tudo vamu na cidade vê firme da Mazzaropi
8 - Adondé que sê vai vê firme de Mazaroppi.
9 - Sê é avariado, eu  é qui num botu o meu pé nesse mundão de meu Deus, tenhu mais é qui faze.
10 - i nóis vamu aviajá cumé, i quem cuida das criação.
11 - Mais intonci seis vão memo de viagi?
12 - Pegá um tantu di cumida e juga um pokin ali todu dia, quié  dadonde qui tem mais cumida qui us pexe fica tudu juntadu ali.
13 - Quandu senti a fisgada – puxá com ligereza
14 - To custumadu com essa vida de labuta todo dia.
15 - Num farté i é oio gordo em riba de quem tem valori. Que késsa vaca tem?
16 - E diabão de ganhá o mundu.
17 - Não me enchus picuá.
18 - Hó coroné, di zói na casa viu coroné.
19 - Óia só, um burru puxanu u otu, sei muito bem a presepada qui issu vai dá.
20 - Faiz tempu quieu num ti vejo oce.
21 - Vamu lá pu ladu do vali pra modi o mininu dá um divortei i nóis percisa di uma posada hoji,
22 – sê lembra daqueli violero qui ficava aqui? O povu si revortô cum ele, a viola deli toca suzinha.
23 - O Renato começo a si mangá di todu mundo.
24 - Com toda essa leiteria eli chora di fomi, muié, reza preli cê reza Zurmira.
25 - A sinhora fica carma, faiz tudu quiném sê faiz toda noite, mais tem qui avisá seu Marculinu pra modi num assustá cu eu nem.
26 Tamu ino todu mundu atrais du firmi du mazaropi, zurmira ta mei revortada mais vais nem.
27 – presenti di dona rosa, não persisava dona rosa. Oia qui formosura, se divinho minha preferênça
28 - Safada, maledita, cabô a farra maledita. Agora oce vai parece pra quem feiz essa catiça.
29 - A diversão di pobri é i nu armazém i inche a sacola, o restu é firula, coisa di quinzim.
30  – nóis vamu é drumi pur dibaxu da ponti issu sim.
31 – porque qui noís paremu aqui. Ta com jeitu de chuva persisamu um luga secu pra ficá nem fi.
32 – amigo Mazaropi, nois so vinhemu assisti um firme seu pra dipois vorta pra casa viu, não me apronta uma farseta hem.
33 – mãe, já qui tamu, qui fiquemu.
34 - So jeca sim sinhô com muito gosto, tem minha terrinha, prantu meu inhami,  trabaio pra mim e num so impregado.
35  - Mãe já qui tamu, qui fikemu. Hê! inda ta cum rabu viradu, qui dificulidade essa muié.
36 -  não mi venha cum discausu, oce ta cum as hora contada cum eu.
37 -  tamu indo pus ladu da cidadi mais pra frenti aí nem.
38 - Trabaiava numa fazenda aqui perto, fazendão, meu, hoji trabaio com biscate, façu um servicinho aqui otro ali.
39 -  se agenti discuidá passa fomi, pois num arruma selviço.
40  – vamu vê que qui tem de bóia, despois nóis percura o cimema.
41 -  Pó perpará pra isvazia o borco. Mais esse é o preço di deiz cestu de inhame, se viu só zurma.
42  - ocê que si vira com o seu isganamento.
43 – bandi bocó gasta tudu im ropa.
44 – nois podi ajuda ocê.            
45 - Tardi, se sabi donde qui ficu cinema?
46 -  cinema tem mais nois num sabe se vai passa da fiume da mazaropi. Nois nunca viu nem.
47 -  dondé qui fica o cinema? a cinema fica lá nu praça.
48 - tem uma pessual que sabi donde que passu fiume da Mazzaropi.
49 - É genti qui gosta dessi coisa e di tocá viola, vai ta nesse noite lá nu fim desse rua.
50 - Intonci, gostô du cinema fi.
51 - bão, vamu intao no tár do bar do Ircu pra sabe dondé que fikesse tár de cinema nem nu camim nois ranja um luga  pra drumi
52 - gorinha meso cabei di tomá café companhado, aí eu escapuli com essa. Mais sosse num fizé questão levu bolu pra cume mais tardi.
53 - E oce, que qui faiz com essa violinha mecretefe parecenu um nim de sabiá?
54 - Tava venu seis tocá seis são bão dimais viu.eu num tocu iguar oceis não viu. 
55 - Oi, dadondi oce é? O pobrema dilá é qui não tem cinema pra módi vê firme do Mazzaropi nem.
55 -  Se qué tocá viola comueu. Se faiz quarqué coisa pra toca viola comueu.
56 -  quase qui essi disgramadu pegueu uai,
57 - nois vai sai daqui agora meso, lá esse tar num apareci não uai.
58 - Me contaru rapariga que u homi di noiti tevi aqui e levo o violeru pras banda deli.
59 - carcule só a prosopopéia. Calcule  só a bagunça.
60  – mais péra, leva vara proceis pescá. Oceis gosta, assim resfresca a cabeça.
61 - Tardi, será queu possu pruveita u fogu i a companhia de vosmecêis. Eu to levanu uma incumenda prum sujeitu pra modi passá pru entrus dedu.
62 - o violero qué a cobra pra modi passá pur entri us dedu.?
63 - eu ficu agradicido com a atenção di seis tudu aí.
64 – tem qui sê omi pra módi passá a cobra pur entri us dedu.
65 - Senhori moçu, para com issu pra qui tanta ganança, oce já tocum pocu. Para cum issu.
66 - vamu passá bicha nus dedus.
67 – as bota du gabrier fico boa nu necu nem.
68 -  Hora quinzim sosse que vorta pra trais nois vorta, mais vo fala uma coisa pra oce, se oce quisé vorta pra trais nois vorta hem.
69 - si oce quisé vorta pra trais nós vorta, mais si oce quisé sigui dianti nóis vai também.
70 -  ó quinzim , vamu agora percurá um lugá gostoso pra nóis cume i despois percurá um lugá bem quentim pra modi nois drumi
71 - Queru frangu cum cuca cola, eu tomem vo kere frangu cum aqueli galetu qui roda dendufornu. Fica carmo ô, péra qui us homi perguntá pra nois uai.
72 -  si u homi num vinhé logo eu vô intra pra denda cuzinha e vô fazê meu pratu logo.
73 - Caducu, vai kerditá num casu dessi? I mãi, vamu ovi u homi.
74 -  tamu ino no rumu da cidadi mais grandi aí pra frente pra modi vê u firme du Mazzaropi.
75 - e adondi que vai contece esse milagri, qui si fô longe eu adesistu, to numa cansera deferenti num gostu quandu sintu essa cansera deferenti
76 -  é mió pegá o Policarpu, eli vai istranhá com nós. Fica sussegadu qui nois vai cuidá bem deli.
77  – nóis vinhemu vê um firmi qui diz qui oceis passá toda noiti ai.
78 – mas nóis vinhemu meso pra modi vêr o firme du Mazzaropi qui oceis passá aí toda noite.
79 - U mininu ta sapecanu di febri. U seu quinzim, u mininu ta cum febrão rapais.
80 - Oia cumpanheru, nois vai passa aqui um firme, da nossação lá im Brasia.
81 -  Tarde, possu falá cu donu, pra módi falá cu eli.
82 - As criança qui eis pega aqui nu acampamentu eis leva prum orfanatu lá im sum paulu, mais as veis as criança si perdi lá im sum paulu.
83 - Documentu eu num trussi, ficaru tudu lá im casa cidadi di formosu, nunca percisei nem.
84 - Mais eu num queria ficar lá dotô, eu teim minha terrinha im formosu.
85 - você pensa que esse bandu de sem vergonha vai vencê eué
86 - Oia aqui, oce inda tem um tantinhu di dinheru, oce pegu oinbus i vai pra casa da tia marvina, eu incontru se lá hem, viu?
87 - Nois vinhemu passiá i vê u firmi du Mazzaropi nu cinema, i perdemu nossu Necu lá nu campamentu qui mataru Mané Charreteru.
88 - Sinhoraparecida, nunkimaginei quiia vê a sinhora assim di pertu, nossu mininu si perdeu, fui eu qui truxele, a zurmira num kiria, mais eu qui insisti, trais ele di vorta.
89 - Pelamo de Deus, cumé qui chega nu buracu do metro?
90 - Sinhora pudia mim conta uma coisa, aqui já foi o cinema?
91 -  acha que despois dessa trabaieira toda nóis vai vortá pra roça sem vê o firme do Mazzaropi.
92 – íííí oceis num mi enchi u picuá. Oceis num mi enchi u picuá , entra pra dentu pra tomé café, entra  pra dentu. Oia qui  uma limonada proceis queu fiz proceis..
93 - I eu num vo mesu, de jeitu manera, i eu num sai dessa roça aqui nem qui a vaca tuça.
94 - O meu mininu, donde qui tá oce, eu já to com as lata di firmi pra ti amostrá muleki.
95 - O dona, eu ja vi qui a sinhora é muitu bondosa, a sinhora pudia mim dá essis firmi de Mazzaropi, a sinhora num sabi u tantu qui já andei pra vê essis firme.
96 - Tardi possu fala cus donu, pra modi falá cum eli, pra modi mostra essas lata queu tenhu aqui.
97 - Oia lá pai, oia o qui oce ta fazenu hem, sem auteraçao, sem auteração.
98 - Oceis pensa qui essis bandu di guenoranti vai vence eu é. Nois gastemu o pe na istrada, nois cumemu o pão qui u diabu amasso, eu queru donu du cinema.
99 - Mais o que qui eli ta fazenu zurma? Eu vo lá sabê.
100 - Ta bao, eu saio, mais seis tem qui ponha um tapeti vermei aí, si não num sáio.
101 - Oia ai, ta mim estraganu toda a obra. I num mim faça perde a paciença.



Anexo o modelo de trabalho desenvolvido pelas alunas Mirian Ratzke, Ivone Leite Barboza Feltz, Carla Priscila Gude, Kauanna de Paula Oliveira estudante do Ensino Especial, Ensino Médio do Campo  em Cacoal/RO, Escola Cruzeiro do Norte e orientado por mim, professor Oto Braz Odorico.


Análise  Lingüística

I - Introdução:


     A linguagem é muito importante, com ela comunicamos com as pessoas ao nosso redor, a língua portuguesa é a que adotamos para manter contatos com as pessoas.
    Tanto a língua oral quanto a escrita é fundamental na vida social de cada cidadão, pois, através dela comunicamos, temos acesso às informações, e transmitimos aquilo que aprendemos.
Através da linguagem a pessoa transmite sua cultura de acordo o que se aprendeu, através da pronuncia, do vocabulário adotado, da entonação e do sotaque, conseguimos saber muito sobre quem está falando, sua idade, sexo, profissão, escolaridade, sua origem, nível socioeconômico e até sua atividade profissional. Com a língua portuguesa aprendemos a falar corretamente, e a pessoa tem um papel melhor na sociedade. 
Percebemos constantemente atitudes de descriminação com as pessoas que falam de forma “errada” e nós não podemos contribuir com isso.
II - Levantamento de dados


Perfil dos personagens estudados


Nome: Quinzin/Joaquim (Mateus Naschtergaele)
Idade aproximada: 42 anos

Nome: Zurma/Zulmira (Gorete Milagres)
Idade aproximada: 40 anos

Nome: Neco/Emanuel (Vinícius Miranda)
Idade aproximada: 10 anos

Classe social: Classe baixa
Grau de escolaridade: Semi analfabeto
Região: Interior de Minas


III - Corpus sistêmico (Frases do filme sorteada para estudo para o grupo)

1- Quem acha rã no brejo qui dificulidade
2- Quando senti a fisgada- puxá com ligereza
3- Com toda essa leiteria eli chora di fomi, muié, reza preli ce reza Zurmira.
4- A sinhora fica carma, fais tudo quiném sê faiz tuda noite, mas tem qui avisar seu Marculino pra modi num assusta cu eu nem.
5- Mãe já qui tamu, qui fikemu.Hê!  inda ta cum rabu viradu, que dificulidade essa muié.
6- cinema tem mais nois num sabe se vai passa da filme da mazaropi. Nois nunca viu nem.
7- nois vai sai daqui meso, lá esse tar num apareci naw uai.
8- Hora quinzim sosse que vorta pra trais nois vorta, mais vo fala uma coisa pra oce, se oce quisé vorta pra trais nois vorta hem.
9- Umininu ta sapecanu di febri.U seu quinzim, u mininu ta cum febrão rapais.
10- Oia cumpanheru, nois vai passa aqui um firme, da nossação lá im brasia.
11- Tarde, possu fala cu donu, pra módi fala cu eli.
12-  íííí oces num mi enchi u picuá Oceis num mi enchi u picuá, entra pra dentru pra tomé café, entra pra dentru. Oi aqui uma limonada proceis queu fiz proceis.
13- Oai, ta mim estraganu toda a obra.I num mim faça perde a paciença.
IV – Morfologia

          Do ponto de vista morfológico percebemos os seguintes  fenômenos lingüísticas:

4.1)-Troca do O pelo U e  E  por I em palavras como:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Quandu
Quando
Sinhora
Senhora
Qui
Que
Mininu
Menino
Eli
Ele
Febri
Febre
Dentu
Dentro
Rumo
Rumo
Grandi
Grande


Como pode notar, há uma tendência na fala, o falante substituir o E por I e O por U nos               ditongos em finais de palavras. Para a gramática normativa, mesmo nós entendendo o significado em palavras como: mininu, febri e grandi, do ponto de vista fonético não podem ser aceitas, mas sim, menino, febre e grande.

4.2)- Rotacização do L nos encontros consonantais:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Zurmira
Zulmira
firme
Filme
Carma
Calma
Iguar
Igual
carqué
calquer


Como podemos ver, esse fenômeno é comum entre pessoas de baixa escolaridade, e que a gramática normativa não aceita a ocorrências de tais fenômenos.

4.3)- Ausência do plural nas palavras.


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
cinema tem mais nois num sabe se vai passa da filme da mazaropi. Nois nunca viu nem.
Cinema  tem, mas não sabemos se vai exibir o filme do Mazaropi. Nós nunca assistimos falou?
nois vai sai daqui meso, lá esse tar num apareci naw uai.
Nós vamos sair daqui mesmo.
Nois pode ajudar oce.
Podemos ajudá-lo?

O dona, eu já vi qui  a senhora é muito bondosa, a senhora podia mim dá essis firme de Mazaropi, a senhora num sabi o tantu qui já andei pra vê essis firme.
Oh dona! Já vi que a senhora é muito bondosa, daria esses filmes do Mazaropi para mim? Se a senhora soubesse o quanto andei pra ver esses filmes!


 Todos os fatos acima também são alvos de preconceitos, entre os falantes da língua culta. Para a Gramática Normativa a ausência de plural como nestes casos não podem ser aceitos.
   Além das substituições o E  e  O,  dos rotacismo nos encontros consonantais e eliminação das marcas de plural redundantes, percebemos na fala dos personagens outros fenômenos, como:

4.4)-Transformações do LH em I,  nos seguintes dígrafos:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Muié
mulher
Trabaio
Trabalho
Faia
Falha
vermei
Vermelho


4.5)-Simplificação das conjugações verbais:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Tamu
Estamos
Quisé
Quiser
qué
Quer


4.6) Transformação  de NH em N e de MB em M:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Venu
vendo
Estraganu
Estragando
Sapecanu
Sapecando
Donde
Aonde


4.6)-Redução dos ditongos OU em O e EI em E:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Cumpanheru
Companheiro
Trabaieira
Trabalheira
Cansera
Canseira


4.7)-Contração de palavras:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Oceis
vocês
ino
Indo


4.8)- Contração de palavras como nos casos abaixo:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Num
Em, um
Proceis
Para vocês
Cum
Com, um
Preli
Pra ele
Sosse
Se você
Puentri
Por entre


4.9)-Presença de arcaísmo:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Meso
Mesmo
Brasia
Brasília
Firme
Filme
Vorta
Volta


4.1.1)-Redundância:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Entra pra dentro
Entra
Volta pra traz
volta


V - Sintaxe:

Na sintaxe percebemos fenômenos como:


Forma pronunciada pelos personagens
Forma aceita  pela gramática normativa
Quem acha rã no brejo qui dificulidade.
Achar rã no brejo, como é difícil!
Quando senti a fisgada- puxá com ligereza.
Quando sentir a fisgada, puxa rapidamente.
Com toda essa leiteria eli chora di fomi, muié, reza preli ce reza Zurmira.
Com tanto leite ele ainda chora de fome, mulher, poderia rezar pra ele Zulmira?
 A sinhora fica carma, fais tudo quiném sê faiz tuda noite, mas tem qui avisar seu Marculino pra modi num assusta cu eu nem.
A senhora fica calma, faça tudo como toda noite e não se esqueça de avisar o senhor Marculino para ele não assustar.
Mãe já qui tamu, qui fikemu.Hê!  inda ta cum rabu viradu, que dificulidade essa muié.
Mãe, se aqui estamos aqui vamos ficar. He! Ainda está com raiva? Que dificuldade é essa mulher?
cinema tem mais nois num sabe se vai passa da filme da mazaropi. Nois nunca viu nem.
Cinema tem, mas não sabemos se vai exibir o filme do Marzzaropi. Nunca assistimos falou?
nois vai sai daqui meso, lá esse tar num apareci naw uai.
Iremos sair daqui agora mesmo.



VI - Conclusão:

            Ao concluir este trabalho, percebemos as varias dimensões de uma mesma língua. Como podemos verificar nas palavras, o estudo da morfologia, da sintaxe e da linguística mais uma vez vem nos mostrar o que já foi constatado por pesquisas de renomados autores a respeito do uso da língua pelos seus falantes.
            O modo de falar de uma pessoa interfere positiva ou negativamente na vida da pessoa, dependendo do seu vocabulário a pessoa pode ser aceita ou até descriminada devido a seu modo de falar. A gramática normativa não aceita erros como podemos ver acima. Deste modo a partir de todas as informações obtidas vemos que, essa pesquisa serviu não, só como um estudo, mas como conhecimento, com a perspectiva  de que essa foi apenas uma amostra de tudo que ainda temos que aprender.


Obs.: verifica que com a orientação do professor o trabalho ficou muito bem detalhado.
Para contribuir ainda mais com o assunto outros textos também poderão ser utilizados.
Veja novas sugestões.
01 - Falar é fácil, escrever é difícil. Você também pensa assim ?

Leia o texto de Jô Soares para perceber a diferença.

"Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala"
                                                                      Jô Soares. Revista "Veja" - 28.11.90

Pois é. U purtuguêis é muito faciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi  ixatamente cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida ? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé fala sabi iscrevê.

A partir da leitura pode propor aos alunos a reescrita do texto na variação culta.

02 - Aula de português

01 A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
04 e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
07 sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
10 o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
13 Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
16 a língua, breve língua entrecortada.
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro mistério.

Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar ,
Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

01 - Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em:

a) situações formais e informais.
b) diferentes regiões do país.
c) escolas literárias distintas.
d) textos técnicos e poéticos.
e) diferentes épocas.

RESPOSTA CORRETA: ALTERNATIVA - A

02. No poema, a referência à variedade padrão da língua está expressa no seguinte trecho:

a) “A linguagem / na ponta da língua” (v. 1 e 2).
b) “A linguagem / na superfície estrelada de letras” (v. 5 e 6).
c) “[a língua] em que pedia para ir lá fora” (v. 14).
d) “[a língua] em que levava e dava pontapé” (v. 15).
e) “[a língua] do namoro com a priminha” (v. 17).
                  
ALTERNATIVA - B

Leia com atenção o texto:
[Em Portugal], você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos — peça para ver os fatos. Paletó é casaco. Meias são peúgas. Suéter é camisola—mas não se assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?)
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, nº 3, 78.)

03 - O texto destaca a diferença entre o português do Brasil e o de Portugal quanto
a) ao vocabulário.         b) à derivação.             c) à pronúncia.             d) ao gênero.               e) à sintaxe.

          ALTERNATIVA - A

03 – NÓIS MUDEMO

Fidêncio Bogo

          O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, toda poesia e misticismo.
Mas minha alma estava profundamente amargurada. O encontro daquela tarde, a visão daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocentemente envelhecido, a crua recordação de um episódio que parecia tão banal... tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam a paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pano de fundo de um drama estúpido e trágico.
            As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
-          Por que você faltou esses dias todos?
-          É que nós mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda. Risadinhas da turma.
-          Não se diz “nóis mudemo”, menino! A gente deve dizer; nós mudamos, tá?
-          Tá, fessora! No recreio, as chacotas dos colegas: Oi, nós mudemo! Até amanhã, nóis mudemo!
No dia seguinte a mesma coisa; risadinhas, cochichos, gozações.
-          Pai, não vô mais pra escola!
-          Ôxente! Módi quê?
-          Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse:
-          Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da Mininada! Logo eles esquece. Não esqueceram.
            Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Ai me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapazola tinha partido no dia anterior para a casa dum tio, no sul do Pará.
            É fessora, meu fio não agüentou a gozação da mininada. Eu tentei fazê ele continuá, mas não teve jeito. Ele tava chatiado demais. Bosta de vida! Eu devia di tê ficado na fazenda coa famia. Na cidade nós não tem veis. Nós fala tudo errado.
            Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer, engoli em seco e me despedi. O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.
            Uma tarde, num povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia.
            O que é moço?
            A senhora não se lembra de mim, fessora?
            Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstituí num momento meus longos anos de sacerdócio, digo, de magistério. Tudo escuro.
            Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde ? Foi meu aluno? Como se chama?
            Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:
            Eu sou “Nóis Mudemo”, lembra?
            Comecei a tremer.
            Sim moço. Agora me lembro. Como era mesmo o seu nome?
-          Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa.
-          O que aconteceu com você?
-          O que acontece? Ah fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu.
Comi o pão que o diabo amassô. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui
Bóia fria, um “gato”me arrecadou e levou num caminhão pruma fazendo no meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fomo, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanto é doença. Até na cadeia fui pará. Eu não devia de tê saído daquele jeito., fessora, mas não agüentei a gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui falá direito. Ainda hoje não sei
            Meu Deus!
            Aquela revelação me virou pela avesso. Foi demais para mim.
            Descontrolada comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz, que me olhava atarantado.
            O ônibus buzinou com insistência.
            O rapaz afastou-me de si suavemente.
-          chora não, fessora! A senhora não tem curpa.
Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!
Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram sem flechas vingadouras par mim. O
 ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.
            Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele mudo, nós mudamos, mudamos, mudaaamoos, mudaaamooos..., Super usada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna – a língua que a criança aprendeu com seus pais e irmaos e colegas e se torna o terror dos alunos. em    vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.
            E os lúcios da  vida, os milhares de lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: “Não é assim que se diz , menino!”  Como se professor quisesse dizer: “Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmão e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra!”
            E siga desarmado para o matadouro da vida...
Porto Nacional, 1990.

ATIVIDADES A RESPEITO DO TEXTO ESTUDADO

Parte I
01 - Observem as frases a seguir e relacione cada uma conforme o tipo de variação.
(01) Variação cultural                        (02) Variação histórica     
(03) Variação geográfica                    (04) Linguagem de gíria

(           ) um “gato”me arrecadou e levou num caminhão
(           ) Ôxente! Módi quê?
(           ) Por que você faltou esses dias todos?
(           ) Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse.
(           ) Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa!
(           ) Eu devia di tê ficado na fazenda coa famia.
(           ) Comi o pão que o diabo amassô.
(           ) É que nós mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda.
(           ) Entrei no ônibus apinhado.

01 – Analise as frases abaixo e identifique aquelas que foram ditas no sentido formal.
I) Mas minha alma estava profundamente amargurada.
II) A crua recordação de um episodio que parecia tão banal.
III) Meus olhos percorriam a paisagem enluarada.
IV) Pai, não vô mais pra escola.
V) Entre eles uma criança crescida, quase um rapaz.

A respeito das frases acima se considera que:

a) todas estão no sentido formal                  
b) somente a frase I e IV estão no sentido informal
c) nenhuma frase encontra-se no sentido formal                 
d) somente a frase IV está no sentido informal
e) N.D.A
ALTERNATIVA – D

02 –  A norma padrão é o conceito tradicional, idealizado pelos gramáticos, aos quais a tratam como modelo enquanto a linguagem popular é alvo de preconceitos. Como disse a professora, todos os dias milhares de “lúcios” são barrados nas salas de aulas. O texto nós mudemos nos faz refletir sobre nossas atitudes quanto ao falar popular. A seguir temos algumas situações de reflexão.
 “Não se diz “nóis mudemo”, menino! A gente deve dizer; nós mudamos, tá?” Essa foi atitude tomada pela professora diante da fala de Lucio e que comprometeu seu futuro, uma vez que isso ajudou o garoto a desistir da escola. Em relação a essa atitude e com base nos assuntos discutidos em sala de aula julguem as afirmativas a seguir e assinale a mais adequada.

a) A professora agiu corretamente, pois não deveria deixar o Lúcio falar errado.
b) Lucio agiu errado, além de não aceitar a professora lhe corrigir ainda abandonou a escola.
c) Lucio foi ignorante, preferiu continuar falando errado que aceitar a ajuda da professora.
d) Lúcio é apenas uma vítima da situação e a professora não deveria ter agido daquela forma.
e) Os alunos foram os responsáveis pela saída de Lúcio, deveriam receber punição por isso.

Alternativa D

03    -  Em relação a atitude da professora?
a)      Ela agiu corretamente, pois tinha o dever de ensinar Lúcio a falar o português correto.
b)      Deveria ter castigado os demais alunos que abusavam do Lúcio, pois eles foram covardes.
c)      Não agiu corretamente, se quisesse chamar a atenção do garoto deveria ser de outra forma.
d)     Apenas cumpriu com seu papel de professora Lúcio é que foi ignorante.
e)      Todas as questões acima estão corretas.

ALTERNATIVA – C
04– A melhor forma de um professor reagir numa situação como essa seria.
a) Deixar o Lúcio continuar falando daquela forma e ser alvo de chacotas?
b) Não falava nada com o garoto, mas exortava os colegas que estavam abusando dele.
c) Chamava a atenção do menino como ela fez.
d) Fazê-lo escrever centenas vezes a conjugação do verbo “nós mudamos’ para ele aprender a falar certo.
e) Nenhuma das sugestões acima é adequada.

ALTERNATIVA – B
05 -  Bosta de vida! Na cidade nós não tem veis. Nós fala tudo errado.
Essa foi uma afirmação do pai do garoto quando a professora foi procurar pelo menino. A partir das questões abaixo julguem a mais adequada.
a) É verídica a afirmação do pai de Lucio que quem mora na roça fala errado?
b)  As  pessoas da cidade também falam errado.
c) Falar certo e falar errado é uma visão preconceituosa.
d) As pessoas da roça falam erradas porque não têm acesso a informações.
e)  N.D.A.
ALTERNATIVA – C

06     “Eu era uma assassina a caminho da guilhotina. Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele mudo, nós mudamos, mudamos, mudaaamoos, mudaaamooos..., Super usada, mal usada, abusada, (......) em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.”

Essa é a fala da professora de Lucio quanto deparou com o rapaz naquela situação. O que fez mudar de comportamento em relação ao ensino da gramática?
a) Simplesmente pelo fato de ter encontrado Lúcio naquela situação depois de tanto tempo.
b) Porque Lúcio contou tudo que ele passou na vida.
c) Porque ela não conversou com Lúcio a tempo dele deixar a escola.
d) Porque ela estudou e percebeu que um ensino baseado em aprender regras gramaticais não era tão importante como ela achava antes.
e) N.D.A
ALTERNATIVA - D
  07 - “Eu mudo, tu mudas, ele mudo”. Essa foi uma conclusão da professora em relação ao ensino da gramática normativa. Através da fala da professora podemos  inferir que:
a) a professora não acredita mais em um ensino focado em cima da gramática normativa.
b) a gramática normativa condena a norma popular e dessa forma pessoas como Lúcio com medo de sofrer preconceitos podem evitar dar opiniões para não serem alvos de chacotas.
c) a professora condena a forma que a gramática normativa trata o ensino da Língua Portuguesa.
d) a professora não dá importância ao ensino da Língua Portuguesa baseado em normas gramaticais.
e) todas as alternativas estão corretas.
ALTERNATIVA – B

08 – A partir das informações abaixo responda:
I) O uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. 
II) Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.
III) Fatores como, região, faixa etária, classe social e profissão são os responsáveis pela variação da língua.
IV) A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes.
V) O indivíduo graduado fala somente o linguajar culto enquanto o indivíduo analfabeto fala somente o dialeto popular.
VI) Fatores como região, faixa etária, classe social e profissão, são responsáveis pela variação da língua;
VII) O que determina a escolha de uma ou de outra variedade linguística é a situação concreta de comunicação.
VIII) O uso das vogais abertas em algumas regiões do Nordeste como ménino em vez de menino – quérida em vez de querida e o s chiado carioca e o s sibilado mineiro são exemplos de variações regionais.

a) Todas as afirmativas são verdadeiras       
b) Somente as afirmativas I – III – IV e VIII são verdadeiras.
c) Nenhuma alternativa é verdadeira.           
d) Somente a alternativa V é falsa.
e) Não há alternativa falsa.

ALTERNATICA CORRETA – D

09 – RELACIONE AS FRASES ABAIXO SENDO (01) PARA LINGUAGEM DE GÍRIA (02) VARIAÇÃO SOCIAL CULTA (03) VARIAÇÃO SOCIAL POPULAR (04) VARIAÇÃO REGIONAL e (05) VARIAÇÃO HISTÓRICA. 
(      ) Foi irado meu! Quando vi aquela multidão toda gritando: bis, bis, bis..                                          (      ) Segundo os lingüistas podemos concluir que há dialetos de dimensão territorial, social, profissional, de idade, de sexo e histórica.                                                                                                       (      ) Vossa mercê tem idéia de quantas mademoseles comparecerão ao baile do casarão?                                              (      ) Vivemos um grande momento no Brasil e tem que ser o momento do Nordeste do Brasil, porque é aqui que se concentra a pobreza.                                                                                                                      (      ) Ô velho, já faz um tempão que sou dono do meu nariz...                                                              (      ) Aí meu, quando cheguei o cara já tinha azulado.
(     ) As menina usa biquíni colorido.                                                                                                        (      )  No mundo no me sei parelha, (...) mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vus eu vi em saia!  (Cancioneiro da ajuda)                                                                                    (      ) Filhos, chama os outros piá e vai à mangueira prender os terneiros se não eles mamam tudo o leite das tetas da vaca.
A SEQUENCIA CORRETA É:

a)      01 – 02 – 05 – 02 – 01 -01 – 03 – 05 – 04
b)      02 – 01 – 05 – 03 – 01 – 04 – 03 – 05 – 04
c)      04 – 05 – 03 – 01 – 01 – 02 – 05 – 02 -  05
d)      03 – 02 -  01 – 05 – 03 – 04 -  02 – 05 – 03


ALTERNATIVA - A
COLOQUE V CASO A AFIRMATIVA SEJA VERDADEIRA OU F CASO SEJA FALSA.

(           ) A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes.
(           )  O uso de uma língua varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante.
(           ) Nem individualmente podemos afirmar que o uso da língua  seja uniforme.
(           )  Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.
(           ) A língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se apresenta de maneira uniforme em todo o território brasileiro;
(           ) A variação da língua se dá em função do emissor e em função do receptor.
(           ) Fatores como, região, faixa etária, classe social e profissão são os responsáveis pela variação da língua.
(           ) A norma culta é melhor hierarquicamente que a norma popular.
Níveis de variação lingüística
Observe as frases a seguir e diga se trata de linguagem gíria, variação social culta, variação social popular, variação social regional, variação social relacionado à profissão ou variação histórica.
a)Foi irado meu! Quando vi aquela multidão toda gritando: bis, bis, bis.....................................
b) Segundo os lingüistas podemos concluir que há dialetos de dimensão territorial, social, profissional, de idade, de sexo e histórica. ..................................................................................
b) Vossa mercê tem idéia de quantas mademoseles comparecerão ao baile do casarão? .............................................................................
c) Vivemos um grande momento no Brasil e tem que ser o momento do Nordeste do Brasil, porque é aqui que se concentra a pobreza. ..............................................................................
d) Ô velho, já faz um tempão que sou dono do meu nariz... ................................................
e) Aí meu, quando cheguei o cara já tinha azulado. --------------------------------------------------------
f) As menina usa biquíni colerido. -------------------------------------------------------------------------
g) Vereadores governistas começaram a balançar em favor da CPI. -----------------------------------
h) No mundo no me sei parelha, (...) mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vus eu vi em saia!  (Cancioneiro da ajuda)   ----------------------------------------------------------
i) Uma casa foi comprada, ontem pela manhã, pela mãe de José. -------------------------------------
Observe as expressões a seguir e numere
(01) para linguagem formal                 (02) para linguagem informal.
(           )  Venho solicitar a V. S. a concessão de auxílio doença.
(           ) Quero te pedir um grande favor.
(           ) Seu dotô, só me parece que o sinhô não me conhece.
(           ) Zélia está matando cachorro a grito.
(           ) Essa promoção vai arrebentar a boca do balão.
(           ) Os moradores da capital paulista começaram a mudar seu jeito de pronunciar o R.
(           ) Mamãe, eu vou no mercado pela tarde.

MOMENTO GRAÇA.

RECEITA CASERA DI  MINERIM
Sapassado era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e cuzinhado um kidicarne cumastumate pra fazer uma macarronada cum galinhassada. Quascai de susto quanduvi um barui vinde denduforno parecendum tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda galinha prassa. O forno inquentô, o mistorô e a galinhispludiu! nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! quascai dendapia! Fiquei sensabe dondevim, nancotô, proncovô, ôpcevê quilocura! grazadeus ninguém semaxucô!
SINÔNIMOS


linda
bela
bonita
colossal







feio
horroroso
horrível








leve
maneiro
leviano








surra
sova
tunda
coça
pisa
apanhar
bater
espancar
coro


corda
piola
soga
laço







provocar
mexer
implicar
enticar
mangar
zombar
entrigar
enritar



porção
monte
magote
bastante
punhado
vários
muito




idiota
bobo
leso
ignorante
palerma
imbecil
tonto
bobaca
besta
chato
burro
derrubar
demolir
deslocar
desmontar
destruir
desmanchar
desmantelar




sungar
levantar
suspender
erguer
arribar






espiar
cubar
observar
assuntar
avistar
ver
notar
olhar
enxergar


guri
menino
pirralho
pivete
piá
bambino
moleque
garoto



piquete
invernada
manga
potreiro
marco






rio
sanga
regato
riacho
córrego
ribeiro





sopa
coletivo
jardineira
ônibus
marinete
condução







Além do filme sugiro ouvir o vídeo abaixo sobre um locutor de Quixeramobim. Serve como importante reflexão, principalmente sobre os erros absurdos que os meios de comunicação cometem em relação à Língua Portuguesa.
Caso esse planejamento de aula seja útil, fique a vontade para utilizá-lo em seu dia a dia.

Se possível, faça sua crítica.

5 comentários:

  1. Excelente planejamento, professor! Vou utilizar algumas das sugestões em meu trabalho.

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  2. muito bom! vai me ajudar bastante na minha oficina de variação linguistca para o estagio de regencia!

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  3. Parabéns, professor! Seu plano de aula está muito bem feito. A metodologia é de fácil aplicação e nos dá a oportunidade de inserir vários textos e falas do nosso cotidiano.

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  4. Professor, excelente seu trabalho!! Parabéns e obrigada pelas dicas...

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  5. Sou apaixonada pela Linguística, e adoro esse assunto!
    Obrigada pela contribuição!!!

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